INFERTILIDADE - Medicina reprodutiva e a Patologia
JUNHO É O MÊS MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO DA INFERTILIDADE
Por: Dra. Juliana Elizabeth Jung, PhD - CRM 19955 - Médica Patologista do Citolab Laboratório, autora do livro: Roteiro Ilustrado de Dermatopatologia - Editora DiLivros
Tanto o homem quanto a mulher podem ser responsáveis pela infertilidade.
Segundo a OMS, o casal pode ser considerado infértil se estiver há mais de um ano tentando engravidar, mantendo relações sexuais frequentes e sem o uso de preservativos.
É sabido que acima dos 35 anos, o prazo é de seis meses.
INFERTILIDADE FEMININA
Nas mulheres, a causa mais comum de infertilidade é a endometriose.
A endometrite crônica também é uma etiologia importante e abaixo descrevemos como a Patologia pode ajudar no diagnóstico de infertilidade.
Endometriose
A endometriose é responsável por cerca de 30 a 50 % da infertilidade feminina.
Esse número corresponde principalmente às mulheres que são assintomáticas, ou seja, àquelas que não têm cólica menstrual ou nenhum outro sintoma da doença.
A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido endometrial (revestimento interno do útero) fora da cavidade uterina, localizando-se normalmente nas vísceras e membranas que revestem os órgãos pélvicos.
A laparoscopia é o padrão ouro para o diagnóstico de endometriose. Porém estudos recentes têm avaliado outros testes para o diagnóstico. Um deles é a utilização do marcador imunoistoquímico PGP 9.5 em biópsias de endométrio.
Pacientes com endometriose apresentam fibras nervosas na camada funcional (mais superficial) do endométrio, e maior concentração de fibras nervosas nas camadas basais (mais profundas) do endométrio e miométrio, normalmente não presentes em pacientes sem endometriose.
Essas fibras podem ser detectadas por marcadores específicos, então foi sugerido que a biópsia endometrial poderia ser útil no diagnóstico de endometriose, através da pesquisa de um desses marcadores.
O produto gênico proteíco (marcador pan-axonal) PGP 9.5 é um marcador que pode ser detectado por imunoistoquímica e é especifico para fibras nervosas.
Como a biópsia endometrial é um procedimento simples os estudos vêm mostrando bons resultados no diagnóstico da endometriose, a pesquisa do PGP 9.5 hoje é uma boa opção como auxílio diagnóstico dessa patologia.
Endometrite Crônica
Uma etiologia importante de infertilidade feminina é a Endometrite Crônica, que é uma inflamação persistente na mucosa endometrial causada por bactérias patogênicas como a Enterobacteriaceae, Enterococcus, Streptococcus, Staphylococcus, Mycoplasma e Ureaplasma.
Não há um sinal clínico específico para endometrite e o Ultrasom também pode não apresentar achados significativos e esta entidade pode passar despercebida. Mesmo quando assintomática, a presença desta inflamação pode causar repetidas falhas de implantação do embrião no útero materno e abortamentos de repetição.
A endometrite crônica é encontrada em mais de 30% das pacientes inférteis.
Seu diagnóstico é desafiador e requer o emprego da Histopatologia, que tem como principal achado a presença de plasmócitos no estroma endometrial, além de edema na mucosa endometrial, densidade celular estromal elevada e dissociação da maturação entre epitélio e estroma.
A técnica clássica para o diagnóstico de endometrite crônica é a biópsia endometrial por histeroscopia, seguida de estudo histológico e imunoistoquímico.
A avaliação dos plasmócitos é feita através do estudo imunoistoquímico do marcador CD 138 e baseia-se na identificação de 5 ou mais plasmócitos no estroma endometrial.
Estudos têm demonstrado que a avaliação de plasmócito pelo marcador CD138 é uma ferramenta precisa no diagnóstico de endometrite crônica, visto que este marcador é específico para a célula plasmática, com especificidade e sensibilidadede 100%.
Falha de implantação
O endométrio suporta a implantação embrionária através do sistema imune, fatores de crescimento, citocinas e moléculas de adesão.
As células Natural Killer (NK) são células de defesa do sistema imune que têm a função de reconhecer células estranhas ao organismo, células infectadas por vírus, ou alguma mutação que podem originar neoplasias, participando ativamente do mecanismo de vigilância imunológica.
As células NK uterinas constituem uma das populações de leucócitos mais abundantes no tecido endometrial.
Um equilíbrio adequado em sua função é fundamental no desenvolvimento placentário e na tolerância materna ao embrião. Alterações no número e/ou atividade dessas células podem levar ao aumento de sua toxicidade culminado em falhas reprodutivas ou desencadeando complicações gestacionais.
A pesquisa de células NK pode ser feita pelo marcador imunoistoquímico CD 56.
Estudos apontam que um valor de corte de 12% de células NK nas biópsias endometriais prediz o risco de falha de implantação.
Independente da causa da infertilidade, procurar ajuda o mais rápido possível, sob a orientação do ginecologista ou obstetra é necessário para o direcionamento correto do diagnóstico, o que faz toda diferença em qualquer tratamento.
INFERTILIDADE MASCULINA
Vários exames podem ser solicitados pelo urologista a fim de investigar as causas e os possíveis tratamentos da infertilidade masculina. Entre eles estão, por exemplo, o espermograma, testes genéticos, testes hormonais e a biópsia testicular.
A biópsia testicular pode ser um procedimento para complementar o diagnóstico de infertilidade masculina e não é um exame complicado ou doloroso. Trata-se de um exame relativamente simples, de fácil recuperação e indicado em casos específicos.
Ela também pode ser indicada para como método terapêutico para retirada e recuperação de espermatozoides. O procedimento também pode ser feito para a realização da fertilização in vitro ou de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), ambos tratamentos de reprodução assistida.
A biópsia é indicada em casos de incertezas a respeito do diagnóstico, com resultados inconclusivos de outros tipos de exames feitos anteriormente.
A avaliação histopatológica clássica do testículo inclui características gerais das células testiculares, observando-se a uniformidade e/ou heterogeneidade dos achados histológicos, diâmetro dos túbulos seminíferos, presença ou ausência de fibrose, estágio de maturação das células espermáticas, avaliação das células de Sertoli e caracteres intersticiais, como, por exemplo, a avaliação das células de Leydig.
A azoospermia (ausência de espermatozóides nas amostras de sêmen) requer que seja feita uma biópsia testicular para analisar se o testículo gera espermatozoides.
Com este exame podemos estabelecer se a azoospermia é de ordem obstrutiva - o testículo produz adequadamente espermatozóides mas há uma obstrução no trajeto - ou secretora - onde não há produção de espermatozóides pelo testículo ou há, mas é inadequada.
Essa informação é fundamental para uma tomada de decisão do melhor tratamento para o paciente.