BIÓPSIAS DE PELE - ORIENTAÇÕES - Seleção das lesões, manipulação adequada das amostras.
BIÓPSIA DE PELE
Por: Dra. Juliana Elizabeth Jung, PhD - CRM 19955 - Médica Dermatopatologista do Citolab Laboratório, autora do livro "Roteiro Ilustrado de Dermatopatologia" - Editora DiLivros
Para que o patologista possa analisar adequadamente as amostras provenientes de biópsias de pele é fundamental que o médico saiba selecionar as lesões, colher e enviar o material de maneira adequada para o laboratório de anatomia patológica.
1- A requisição do exame também deve ser preenchida com informações do paciente, história clínica, local da biópsia, hipótese diagnóstica principal e pelo menos um diagnóstico diferencial. Somente desta maneira a leitura da lâmina poderá fornecer/retornar informações satisfatórias para o diagnóstico e condução do caso.
2- Biópsias de locais diferentes devem ser colocadas em frascos separados, devidamente identificados. Nunca colocar biópsias de locais diferentes em um só frasco.
3- Os instrumentos utilizados em biópsias de pele devem estar bem afiados para que danos decorrentes de esmagamento não prejudiquem a análise. Evitar também pinçamento da amostra. O material coletado deve ser imediatamente colocado em frasco com formol a 10%, de preferência tamponado. O volume ideal de formol para uma boa fixação é de 10 a 20 vezes o do espécime. O tempo de fixação é de 1 a 2 horas para cada milímetro de espessura pele.
4- Para biópsias que serão encaminhadas para imunofluorescência a melhor maneira de transporte é no meio de Michel. O tempo de transporte não deve ultrapassar 72h. Para colorações especiais e imunoistoquímica utiliza-se o mesmo material parafinado que foi processado na rotina.
5- Regra geral: deve-se biopsiar lesões bem desenvolvidas (“maduras”) e sempre que possível evitar biopsiar lesões em fases muito inicias (“imaturas”), com tratamento prévio, com crosta, cicatrizes e hipercromia residuais. Em lesões muito pruriginosas, os achados histológicos podem demonstrar apenas alterações secundárias como crostas, escoriação, ulceração e infecção secundária, dificultando o diagnóstico da doença de base.
6- Exceção à regra: nas doenças vésico - bolhosas as lesões devem ser excisadas quando são iniciais (menos de 48h), na fase eritematosa, pápulo-edematosa ou formando pequenas bolhas recentes. Bolhas antigas com processos reparativos e infecção secundária devem ser evitadas. Se apenas lesões bolhosas grandes ou ulceradas estiverem presentes, elementos para conclusão diagnóstica na pele perilesional podem ser encontrados, junto com a borda da bolha. Para imunofluorescência em lesões bolhosas, a biópsia deve ser realizada na pele normal adjacente.
Em lesões máculo-papulares é preferível biopsiar as pápulas, pois a mácula pode conter apenas achados precoces que podem não ser suficientes para diagnóstico.
Quando as lesões comprometem várias regiões dos membros inferiores, as alterações decorrentes de estase podem mascarar a lesão primária, portanto é melhor biopsiar as lesões que se localizem acima do joelho.
7- Alguns casos especiais;
Em lesões que frequentemente deixam dúvidas quanto à natureza do processo (neoplásico x inflamatório) como micose fungóide, melhor realizar pelo menos três biópsias em diferentes estágios de evolução.
No lúpus eritematoso os achados característicos são mais facilmente encontrados nas lesões antigas com 2 a 3 meses de evolução.
Em alopecias deve-se realizar a biópsia na área de eritema com pelos visíveis. O subcutâneo deve ser incluído para avaliar os folículos desta região. Evitar áreas totalmente cicatriciais que normalmente não fornecem informações sobre a doença de base.
Nos casos de psoríase ou eczemas evitar retirar fragmentos dos cotovelos e joelhos.
Em paniculites, os septos, lóbulos e vasos do panículo precisam ser avaliados para o diagnóstico diferencial entre os diversos tipos de paniculite e a hipoderme deve ser obrigatoriamente incluída na biópsia para avaliação.
Em hanseníase a biópsia também deve incluir hipoderme, para que os filetes nervosos possam ser bem avaliados.
Em vitiligo e casos de anetoderma e atrofoderma, o ideal é realizar duas biópsias, uma da lesão e outra da pele sadia, para que possa ser feita uma comparação entre elas.
As lesões melanocíticas pequenas devem ser excisadas com margem econômica. A excisão permite a análise histopatológica completa da arquitetura, simetria e circunscrição, que são essenciais no diagnóstico dessas lesões.
Nos melanomas cutâneos dados como espessura da lesão (índices de Breslow e Clark) só podem ser considerados como efetivamente representativos quando a lesão for totalmente excisada, caso contrário devem ser encarados como provisórios.
Biópsias incisionais podem ser feitas quando lesões maiores, coletando amostras de áreas mais escuras.
O médico escolhe a melhor técnica de biópsia para cada situação e o conhecimento da histologia é essencial para auxiliá-lo em sua decisão. Os métodos mais utilizados são: punch, bisturi ou tesoura, shaving e curetagem.
A biópsia por punch geralmente fornece amostras adequadas para avaliação. Ele é um instrumento circular cujo diâmetro varia de 1 mm a 1 cm e a técnica consiste em movimentos de rotação e pressão vertical para que o instrumento atinja a profundidade desejada.
Punch
O bisturi é mais utilizado para excisão das lesões e permite também obtenção de amostras com as camadas mais profundas da pele. É o melhor método para retirada de lesões pigmentadas e biópsias de lesões bolhosas, circinadas, hanseníase e paniculite.
Amostras obtidas com o bisturi
O shaving é utilizado para afecções restritas à epiderme e derme superficial.
Shaving
e a curetagem é um instrumento de terapêutica e não propriamente de biópsia, pois a fragmentação do material pode alterar a arquitetura da lesão.
TEXTO BASEADO NO LIVRO "ROTEIRO ILUSTRADO DE DERMATOPATOLOGIA"
Autores: Juliana Elizabeth Jung / Samuel Régis Araújo
Editora: DiLivros